sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

SORTE OU REVÉS?

Se tem um cara azarado no mundo, esse cara sou eu. Talvez tenha sido por causa daquele espelho que quebrei num ataque de raiva após cair na casa “Jornaleiro. Salário de $ 24 mil. Ande 5 casas para receber seu salário” no Jogo da Vida.

Mas muito mais de sete anos se passaram, e finalmente eu tive a minha vez. Ano passado ganhei uma promoção de uma emissora de televisão e fui à França por 3 dias, com tudo pago, para assistir a um show do The Police, a banda daqueles caras que brigam como se fossem um casal com 42 anos casado.

- Eu falei prá você comprar mandioquinha!
- Não tinha. Então comprei pimentões…
- Mas o que eu vou fazer com tanto pimentão? Não tem nem lugar na geladeira!
- Ai, Santo Deus…

Brigas Copeland vs. Sting à parte, lá fui eu. Continuando a maré de azar da minha vida, obviamente, minha mala demorou horrores pra chegar. Não tinha mais ninguém do meu vôo esperando bagagem, só o otário aqui. E pra piorar a situação, eu fui o cara que, no meio de 40 mil pessoas que devem transitar no aeroporto de Paris por dia, um mané da polícia federal francesa escolheu pra achar que tinha cara de imigrante ilegal.

- S’il vous plaît…

Continuei andando, até porque não falo uma goma de francês e não entendi que era comigo.

- S’il vous plaît…

Juro que eu não estava ignorando propositalmente. Minha cabeça estava mais preocupada em procurar a plaquinha com o meu nome na sala de desembarque. Mas como vi que o cara tava berrando insistentemente, resolvi virar meu pescoço pro lado e vi que era comigo.

Cheguei perto dele e ele disse um monte de coisas em francês que eu não entendi, mas imagino que não era algo do tipo “Bem-vindo à França, em que posso ajudá-lo?”. Falei para o cara que eu não sabia francês – em uma tentativa bem tosca de falar o idioma – e aí sim, começamos a conversar em inglês. A primeira pergunta dele foi bem simples:

- What are you doing in France?

Tradução: o que você veio fazer na França? Eu, na maior inocência do mundo, e só percebendo a estupidez da minha resposta depois de ouvir da minha boca o que eu estava dizendo, respondi:

- I came to see The Police…

Tradução: eu vim ver a polícia. Sem mais comentários.

Obrigado, meu amigo. Já me viu. Agora pode ir embora!, era o que eu teria respondido se eu fosse o policial. Mas a interrogação na cara dele foi tão grande que resolvi explicar direito o lance da promoção. Ele não pareceu acreditar muito e perguntou se “I had something to declare” (traduzindo, se eu tinha algo a declarar).

- Sim. Eu os declaro marido e mulher – apontando para ele e para o outro policial francês ao lado dele.

Deu muita vontade de fazer uma dessa. Ô pergunta idiota. Se bobear, mais idiota do que a minha resposta. Quem disse que, por mais que eu tivesse algo a declarar, eu iria dizer "Tenho sim. Oitenta mil dólares, três quilos de cocaína escondidos no forro da mala e mais trezentas pílulas de êxtase dentro dos tubos de pasta de dentes. Quer me prender aqui mesmo ou vai me extraditar para o Brasil?"

Mas o medo de ser preso foi maior e eu respondi a pergunta dele com um simples “não”. Foi o suficiente para ele revirar a minha mala inteira procurando por oitenta mil dólares, três quilos de cocaína escondidos no forro da mala e mais trezentas pílulas de êxtase dentro dos tubos de pasta de dentes e depois socar tudo de volta na minha mala.

Quinze minutos depois fui liberado por ele e fui de novo procurar o cara carregando a plaquinha com meu nome. Encontrei, mas foi difícil. E o pior: o cara já tava indo embora porque achou que o “brasileiro não tinha desembarcado”. Policial FDP.

Pois é: nem mesmo quando eu tenho sorte o azar me esquece. Tem coisas que só acontecem comigo mesmo. Não é a toa que eu nunca era médico no Jogo da Vida.

Um comentário:

Oz Krepski disse...

ahahhaa...no jogo da vida eu era estudante sempre...mas sempre rolava um jeito de comprar ações! não é como na vida real, que eu além de não ser mais estudante, não sou médico e nem tenho como comprar ações!

 
eXTReMe Tracker