segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

POLÍTICA DO "BOLO E CIRCO"

Mais uma vez o bolo do Bexiga. Dessa vez, de quatrocentos e cinqüenta e quatro metros, pra combinar com a idade que a cidade de São Paulo completou. Não sei quanto a você, mas eu me divirto vendo o desespero das pessoas pra pegar um pedaço do bolo.

E pelo visto não sou só eu: todo ano o Ernesto Paglia tá lá – isso quando a Globo não manda o cara pro Alaska fazer uma reportagem sobre como o aquecimento global está acabando com a vida dos leões marinhos. Aliás, acho que com certeza ele preferiria estar no Alaska.

Eu espero janeiro quase inteiro até o dia 25, só pra assistir pela televisão a briga das pessoas para conseguir comer. O governo proíbe rinha, mas pra quê ver galo brigando se eu posso ver gente se estapeando por um pedaço de bolo? Ah, se o Duda Mendonça tivesse um pouquinho mais de paciência... É muito mais divertido, porque o ser humano pensa (ás vezes).

Lembro de um cara que bolou uma logística interessante. Ele era magrelo, tinha um bigode bem ralinho. Levou um tupperware com ele. Assim que foi dada a largada, ele correu e meteu a tigelinha de plástico no bolo num movimento de cima pra baixo. Ok, ele conseguiu a parte do bolo dele, mas não pensou numa coisa: como tirar o bolo de lá agora?

Ele ficou desesperado olhando todo mundo pegando os pedaços ao lado e ele lá, sem saber como pegar todo aquele emaranhado sem derrubá-lo no chão. Mas tudo bem, a parte dele tava garantida. Na última, era só derrubar o pedaço dele no chão, numa desesperada atitude se eu não como, ninguém come.

Três, dois, um, já. E lá vão todos eles, correndo pra cima do bolo na mesma velocidade com que o Mirandinha via o campo acabar na linha de fundo na década de 90. E com a mesma mão suja que segurou o balústre do busão, eles pegam o bolo. A mãe de família, que não quer cozinhar pros 11 filhos:

- Olha o que a mamãe fez hooooooje: bolo!!!
- Êeeeeeeeeee…

O motoboy, que quer dar um presente romântico para a namorada:

- Aí, mina, trouxe um bolo pá nóis. Comprei lá no Amor aos Pedaços.
- Ai, Cleybson, eu te amo!

O sem-teto, que enxerga comida até numa pedra, como naqueles desenhos do Pernalonga, em que tudo vira um frango na mente do coelho:

- É hoje que eu tiro a barriga da miséria, rapáiz…

Desculpa a grosseria, mas o sorriso no rosto dos âncoras dos telejornais me dá ânsia. Será que ninguém pensa que o aniversário de São Paulo é o menos importante pra essas pessoas? Será que precisa de mais que isso pra estampar que essa porra desse bolo representa a fome do povo brasileiro? Roma bem que tentou, mas só São Paulo conseguiu. Viva o circo!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

SONÂMBULO

Aconteceu há pouco menos de dois anos. Era mais um lindo dia em Buenos Aires. Levantei de manhã pra ir trabalhar e fiz tudo que eu precisava fazer, seguindo o meu ritual neurótico de sempre (café, banho, etc...). Quando estou saindo de casa para ir trabalhar, me deparo com um sério problema: cadê a chave? Perdi. Eu fiquei trancado dentro do meu próprio apartamento. Sim, é meio difícil de acreditar, mas era verdade: eu havia me trancado no meu apartamento e agora não encontrava a chave para sair.

Fazer o quê? Lá vou eu procurar a maldita chave. Comecei a revirar tudo: armário, bolso das calças, cama, embaixo da cama, embaixo da mesa, todos os lugares possíveis e imaginários e nada. Fui até pro banheiro e nem sinal dela.

Aí comecei a ficar desesperado, porque meu apartamento não era tão grande assim e eu não tinha mais onde procurar. Já tinha até visto dentro da geladeira e dentro do microondas. Minha última tentativa (última porque era a mais nojenta) foi revirar o lixo. Peguei um outro saco e comecei a tirar todo o lixo que tinha em um saco pra passar para o outro, na esperança da chave aparecer por lá. Adivinha: não apareceu. Nisso eu já tava procurando a porra da chave há meia hora!

Aí pensei em chamar o porteiro do meu prédio pelo interfone. Quem sabe o cara não tem uma chave reserva, né? idiota! Eu podia ter pensado nisso antes de revirar o lixo, né? Tem vezes que a minha burrice me dá raiva. Mas tava um barulho desgraçado no interfone e eu não conseguia “comprender un carajo” do que o cara dizia (que ainda por cima, era em castelhano). B-16: áaaaaaaaaaaaaagua. Mais uma tentativa que afundou.

Desesperado, descabelado, cansado, com o apartamento parecendo o meu antigo quarto em São Paulo de tão zoado que tava (porque eu tirei tudo do lugar pra procurar a chave), liguei pra minha chefe pra dizer o que estava acontecendo e o motivo pelo qual eu provavelmente chegaria atrasado no trabalho. Não sei se ela acreditou muito, mas tudo bem.
Bom, voltei a procurar a chave, afinal, chegando atrasado ou não, eu não podia ficar dentro do meu apartamento pra sempre. Até porque eu não tinha condimentos pra sobreviver nem 2 dias lá dentro (morar sozinho é uma merda...).

Aí foi o momento em que eu estufei o peito e disse pra mim mesmo: agora fodeu! Nessa altura do campeonato eu não tinha mais o que fazer, a não ser apelar para o São Longuinho. O coitado do São Longuinho deve ter uma vida de merda. Ninguém pergunta pra ele como foi o dia dele, se ele está com fome ou o chama pra bater uma pelada. Todo mundo só fala com ele quando precisa dos seus favores. Ele é tipo aquele nerd da sua classe que se sente o máximo na véspera da prova de física, quando todo mundo precisa do caderno dele emprestado (se você era o nerd, não fique triste, hoje você é mais bem sucedido que todos os babacas que copiaram a sua matéria). Sei lá, acho que as pessoas pensam que o São Longuinho não tem mais o que fazer. E tem mais: quando o São Longuinho perde alguma coisa, ele pede pra você ajudá-lo? Não. Então deixa o cara em paz, porra! Aliás, ele recorre a quem? Putz, o cara é um coitado mesmo.

Voltando ao assunto, foi o que eu fiz. Me senti ridículo e hipócrita, mas fiz. E quando voltei a procurar, sem esperança, resolvi pular pra ver se a chave estava em cima do armário. E não é que tava lá mesmo? Filha da puta! Como ela foi parar lá? Era impossível eu ter deixado a maldita chave em cima do armário em CNTP (condições normais de temperatura e pressão).

Descobri que sou sonâmbulo. E descobri também que morar sozinho tem muitas vantagens. Uma delas é que ninguém me viu dando três pulinhos.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

UMA SALVA DE PALMAS

Ah, mais um fim de ano. Dessa vez o destino foi Joinville, em Santa Catarina. Cidade do sul do Brasil que fica completamente vazia nessa época do ano e onde todos os comércios se chamam “Joinalgumacoisa” ou “Algumacoisaville”. E que Deus abençoe a originalidade na cabeça das pessoas…

Como todo e qualquer paulista, num belo dia resolvemos ir à praia. Escolhemos Balneário Camboriú. Péssima escolha. Engraçado como a gente reclama do trânsito e do estresse de São Paulo, mas quando temos uma folga do trabalho, pra onde vamos? Pro trânsito e pro estresse.

Foi chegar lá pra se arrepender de ter ido. Eu costumo apelidar esse tipo de situação de Bob’s. Todo mundo se empolga pra ir quando você chama, até a hora em que você dá a primeira mordida no hambúrguer e se pergunta: “por que nós viemos aqui mesmo?”. Ah, a eternal contradição humana. E que Deus abençoe Machado de Assis…

E sim, eu sei que o milk shake de Ovomaltine é ótimo!

Mas isso foi o de menos. O que mais me chamou a atenção nessa minha viagem ao estresse foi a attitude das pessoas na praia quando uma criança se perde: os catarineneses batem palmas.

A princípio, a idéia é excelente. Qualquer pai que perde uma criança bate palmas, a praia inteira ajuda e a criança perdida, no caso, só tem de seguir as palmas. Mas já imaginou se tem alguém cantando “Parabéns a você” no quiosque do Olegário?

Ou pior: fico pensando no cara que inventou isso. No mínimo algum pai desesperado falou para outro:

- Perdi meu filho.

Esse, indignado com a irresponsabilidade do mané, começou a bater palmas, dizendo:

- Parabéns! Você conseguiu perder seu filho! Você é imbecil???

As outras pessoas da praia, apoiando o sermão, começaram a bater palma também. E não é que o filho apareceu logo em seguida? Daí pra virar moda é só botar a mão no joelho e dar uma abaixadinha.

Mas a única conclusão que eu consegui tirar foi que, se eu perdesse meu filho na praia, eu não iria contar a ninguém. De certa forma, bater palmas é compartilhar com os mais de um milhão de veículos que desceram para o litoral - segundo a Ananda Apple - que você é um completo idiota.

Meu filho que se vire para me encontrar. Ou melhor: que ele seja esperto e bata palmas ou até mesmo puxe Escravos de Jó num compasso 3 por 4. Com certeza se eu escutasse isso, eu o encontraria. Ah, se os pais da Madeleine soubessem disso… Interpol e FBI é o escambau! E que Deus abençoe a salva de palmas…

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

MEU AMIGO CHARLES CHAPLIN

Uma vez assisti a um filme chamado Como Enlouquecer Seu Chefe. O filme é bobinho, engraçado até. Mas o que importa aqui é que nele, um dos personagens se chamava Michael Bolton. Sim, como o cantor. E era esse o inferno da vida daquele personagem: seu próprio nome. Todos lhe perguntavam se ele era parente do cantor. Ou às vezes, ouviam o nome e diziam o quanto eram fãs da música de Michael Bolton. Ah, se ele tivesse uma arma…

Eu posso dizer que passei coisa parecida quando o maldito argentino perdeu três pênaltis no mesmo jogo. Em todo lugar que eu ia e dizia meu sobrenome, alguém perguntava:

- Você não é parente daquele argentino não, né?

A piada conseguia arrancar apenas um sorriso amarelo do meu rosto, igual àqueles que você dá quando alguém manda aquelas piadas de tiozão do tipo “sentou na ponta, paga a conta” ou “gente coisa é outra fina, hein”. Ah, se eu andasse armado…

Mas um dia desses conheci um cara com um nome muito pior que Palermo. De deixar inclusive o Michael Bolton do filme com inveja. É o meu amigo Charles Chaplin.

Sim, o cara chama Charles Chaplin. Não é Charles da Silva Chaplin ou Charles Chaplin Gouveia. É só Charles Chaplin mesmo. Charles, mais Chaplin. Impressionante, não? A primeira vez que vi foi no crachá dele. Não acreditei e tive que pedir prá ver o RG. E era verdade mesmo...

Eu fico imaginando o inferno que foi a vida do Charles Chaplin quando ele era mais jovem. Se ele ganhasse um dólar pra cada vez que ele ouvisse a pergunta “nossa, seu nome é Charles Chaplin mesmo?” ou “mas por que seu nome é Charles Chaplin?”, acho que ele ficaria bilionário antes mesmo do meio-dia de hoje. Ah, se ele andasse armado…

E na balada? Devia ser difícil a mulherada acreditar num cara como ele:

- Prazer, Charles Chaplin.

- Hahahaha. E eu sou a Rita Hayworth…Vem com outra que essa não colou, tá? É cada uma que a gente é obrigada a escutar…

Sai a moça, rindo e comentando com a amiga. Mas, ao mesmo tempo, ter um nome como o do Chaplin deve ter suas vantagens. A primeira é que todo mundo entende o seu nome. Ele é mundialmente conhecido e vai ser por pelo menos mais 100 anos. Ninguém vai perguntar “Arnold Schwasoquê?” como o atual governador da Califórnia deve ter ouvido zilhões de vezes. E olha que ele tinha uma arma…

E pasmem: no mesmo lugar onde conheci o Chaplin, tem um cara que se chama Alexandre, mas pede para ser chamado de Spike Lee. Vai entender. Onde o mundo vai parar dessa forma? Eu, como sempre, não quero ficar de fora da tendência. Portanto, a partir deste momento, quero que todos me chamem de Steven, pelo simples fato de que eu acho esse nome legal. E acho bom me obedecerem!

E agora com licença, que eu tenho que sair prá comprar uma arma…
 
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