segunda-feira, 18 de agosto de 2008

FALE MAL, MAS FALE ASSIM.

Irei nas próximas linhas, ensinar-lhe a falar mal – ou pelo menos perceber se não estão falando mal de você -, sem que os outros percebam. A língua portuguesa nos brinda com magníficas palavras que soam como o que as pessoas querem ouvir, mas que querem dizer outra coisa para quem as solfeja contra o vento.

- Olha, Clêibson, gostaria de dizer que estou muito contente com o seu trabalho. Você é um garoto muito esforçado!
- Nossa, obrigado, Menezes! Obrigado mesmo!


Não tem nada pior no mundo do que ser chamado de “esforçado”. Em ambientes corporativos então, nem se fala. Esse tal adjetivo, no fundo, quer dizer que você é extremamente incompetente, um idiota sem tamanho, que não consegue diferenciar uma prostituta extremamente feia de um travesti, mas que você tem força de vontade. Tadinho do Clêibson. Vai perder o emprego logo mais e nem imagina.

Evite ao máximo também ser enganado pela sua própria falta de percepção quando alguém algum dia lhe disser que você é fofo (se você é mulher, fofa, no caso). Eu sei que não é sempre que se recebe um elogio, mas “fofo” não é elogio. Fofo é aquele cara que não tem sex appeal nenhum, que não consegue atrair nem mesmo a uma mosca, mas que é legal e sempre está disposto a rodar a cidade em busca de um pacote de Bono sabor caramelo só porque a mulher que ele sonha em pegar pediu.

- Ai, amiga, ele é muito fofo!
- Jura?
- Você acredita que ele ficou cuidando do meu cachorro enquanto eu tinha um encontro com o gostoso do Ricardo?
- Homem assim está difícil de encontrar hoje, né?


Como os valores estão invertidos hoje em dia, né? Ah, se você é mulher, você é apenas gordinha mesmo, o que, na comparação entre os dois casos, não sei o que é pior. Aliás, nessa relação homem vs. mulher existe uma penca de adjetivos negativos que enganam quando bem utilizados.

Bonitinha(o): é aquela pessoa prejudicada geneticamente, mas que pode ser salva por um banho de loja e alguns quilinhos a mais de maquiagem. Ah, dinheiro ajuda também. Chave de carro importado no bolso, infinitos cartões de crédito na carteira e alguns gramas de maconha pra bolar aquele cigarrinho e deixar a pessoa do seu lado sem muito discernimento são imprescindíveis.

Simpática(o): não tem jeito. Pior do que ser bonitinha(o), é ser simpática(o). Isso porque nem o banho de loja te salva. Não, maquiagem também não. Dinheiro tampouco. Jesus? Nem ele. A única coisa que ajuda um pouco é a sua lábia – e acredite, você vai precisar muito dela. Nesse caso, abrace com toda a força do mundo o ditado que diz “a beleza interior é a que importa” e bola pra frente. Ser legal também cativa as pessoas. Às vezes. Quer dizer, quase nunca.

Mas nada – nada mesmo – se compara a um adjetivo: exótica. Se alguém um dia disser que você tem uma “beleza exótica”, encontre uma lâmpada mágica e peça apenas um dos três pedidos ao gênio: se tornar um avestruz. Assim você pode enfiar a própria cabeça na terra e deixar ela por lá até que toda a humanidade tenha se extinguido. Nós agradeceremos!

É sério! Não se deixe enganar por essa palavra que adora arrancar sorriso das pessoas que a recebem como “elogio”. Exótico é um tipo de feiúra não classificável. Pra você ter uma idéia, “cão chupando manga”, “rascunho do mapa do inferno” e “cara de cavalo” são feiúras classificáveis. “Beleza exótica” atinge tipo 9 graus na escala Richter.

- Mas e aí, ela é bonita?
- Ah, ela tem uma beleza exótica...
- Saquei...


É, eu sei... Você nunca tinha pensado nisso até ler o diálogo acima. E pode ter certeza: cada vez que você ler, vai concordar mais comigo. É tipo uma P.A. (progressão aritmética, para os que faltaram nas aulas de matemática).

Aí estão as dicas. Faça bom uso delas e vê se deixa de ser ingênuo(a) quando as pessoas se utilizarem dessas palavras para se referirem a você. E quanto a mim, receber um “que texto legal” já me deixa feliz. Não precisa ser rude!

quarta-feira, 30 de julho de 2008

MORDOMO NADA. FOI A SALSICHA!

Sempre falam do tal do mordomo, mas ninguém - ou nada - está tão fadada a ser culpada das coisas do que a salsicha. Sim, aquela mesma que pode ser encontrada em hot-dogs-fim-de-balada recheados com muito milho, purê, maionese, batata-palha, queijo cheddar, molho chilli, catarro, parmesão, vinagrete, um pedaço de dedo e catchup.

- Prensado?
- Sim, por favor. E me vê uma Coca também...

Há quem diga que, com tanto recheio, nem é necessária a presença da salsicha, porque não se sente o gosto dela. Mas, sem a salsicha, de quem seria a culpa pela dor de barriga do dia seguinte? Sim, ela é extremamente necessária!

É impressionante a capacidade que a gente tem de culpar a coitada por qualquer problema que nosso estômago tenha. Por que nunca é o pão que estava estragado? Não pode ter sido o cheddar? Ou o milho, a maionese e a batata-palha? O caboclo pode ter comido comida japonesa com salmonela, mas ele vai culpar a salsicha que ele comeu, tipo, na segunda-feira da semana passada.

- Nossa, você ficou mal do estômago?
- Sim, comi uma salsicha semana passada que acho que não me fez bem...
- Salsicha é foda. Eu sempre passo mal quando como também.

Fato é, que quando se culpa a salsicha, ninguém contesta. Todo mundo acredita e pronto! Como se existissem milhares de estudos que indicam que ela é culpada por todo e qualquer problema da humanidade. Ah, se eu soubesse disso antes na minha vida, eu teria me aproveitado tanto:

- Rafael! Você está colando! Vai já pra sala do coordenador!
- Não, psôra, não era eu! Era a salsicha!
- Ah, por que você não falou antes? Desculpa...mas eu estou de olho em você, hein!

Eu tenho uma amiga que com certeza é visionária. Certa vez, aos 15 anos de idade, ela viajou com as amigas e a família de uma delas. Como toda adolescente, o que ela fez foi encher a cara e, como toda adolescente, passar mal depois por causa disso. A mãe dela ficou toda preocupada com a saúde da menina:

- Nossa, Thais, o que você comeu pra ficar assim, menina?
- Acho que foi a salsicha do hot dog...

Agora imagina jogar Detetive com uma informação valiosa dessa: antes mesmo de jogar o dado você já sabe que a assassina é a salsicha. Aliás, será que ela sempre tinha a ajuda do Coronel MOSTARDA? (Nossa, que piada infame!). Agora só falta descobrir o lugar e a arma - que, provavelmente é o candelabro (Vide crônica Coronel Mostarda, com a corda na sala de estar). Pronto. Só falta mesmo o lugar.

Só não consigo entender por que a salsicha ainda não foi culpada pelo trânsito em São Paulo. Ou pela violência no Rio de Janeiro. Ou pelo sotaque dos gaúchos, pela Preta Gil como protagonista em novelas de mutantes ou pela escalação do Gilberto na lateral esquerda da seleção. Só falta mesmo ligarmos a televisão e nos depararmos com o William Bonner dando a seguinte notícia:

Um forte terremoto atingiu a costa oeste do Japão na noite desta quarta-feira. O tremor teve seu epicentro numa panela de aço que cozinhava uma dúzia de salsichas em uma casa no subúrbio de Tóquio.

Culpem a salsicha! Por tudo! Ela nasceu para isso e não vai se sentir injustiçada, isso eu garanto. Só não dá pra culpar a maldita por ela ter um nome tão estúpido e impossível de ser pronunciado em seqüência numa velocidade rápida e constante. Termino o texto deixando você tentar: salsicha, salsicha, salsicha, salsicha, salsicha, salsicha, salsicha...Tá com raiva, né? Não me xingue. A culpa você já sabe de quem é.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

MAIS UMA. SERÁ?

O problema do mundo é, sem dúvida, a saideira. É impressionante como os seres humanos não se contentam facilmente, indo sempre à desgraça depois de pedir a tal da “saideira”. Mesmo depois de vinte garrafas, metade do salário escorrendo pelos tubos e conexões Tigre do mictório instalado no banheiro do bar, olhos para baixo, língua enrolada e muitos, mas muitos “eu te amo, e não tô dizendo isso só porque tô bêbado”, o cara ainda pensa que aquela idéia é brilhante:

- Ô Schumacher, vê aquela saideira pra gente?

Agora me diz: pra quê? Um engradado não basta? Já sei: é só pra dizer que você gastou horrores, mas a última “foi de graça”. De graça pro dono do bar, já que ele lucrou no mínimo 60% em cima de cada uma das 24 garrafas que você tomou com seus amigos.

Aí no dia seguinte, o caboclo acorda coalhado e ainda culpa a tal da saideira, como se a quantidade de álcool que ele bebeu antes não desse pra levar o Uno Mille dele até o Guarujá.

Se fosse só isso, tudo bem, mas o problema da saideira atinge também outros costumes da raça, como por exemplo, a despedida de solteiro. O cara é apaixonado pela noiva e nunca teve relações sexuais com qualquer outra mulher. Um dia antes do casamento vem aquele amigo de anos dele com a idéia de fazer uma festinha numa casa de massagem. Relutante, o cara vai. E descobre que existe mulher muito melhor de cama do que aquela com quem ele estava prestes a passar o resto da vida junto.

- Mas como assim, o Jeferson abandonou a Clarinha no altar?
- Dizem que ele se apaixonou pela prima do André.
- Mas o André não tem prima!
- Ah, é de uma parte da família dele lá do sul...


Hiroshima, Japão, mil novecentos e quarenta e cinco. Não bastasse a destruição da primeira bomba atômica, que praticamente pulverizou em segundos mais de trezentas mil pessoas, algum general americano teve a grande idéia:

- Ah, vamos jogar mais uma, só pra garantir, vai...Garçom, mais uma bomba atômica pros japoneses ali, por favor.
- Com gelo e limão?
- Não, só gelo. Aproveita e fecha a conta pra gente?


E ir ao Cassino, então? Aliás, não sei porque o nome da saideira não é “caça-níqueis”. Incrível a quantidade de “vou jogar só mais uma” que se escuta em todos os idiomas em Las Vegas, por exemplo. O mais legal é que a galera vicia de uma forma que o “só mais uma” vira outra, e outra, e outra; e o cara continua dizendo “só mais uma”. Por que ele não disse da primeira vez “só mais trinta e sete vezes”, então?

Genial mesmo é assistir ao programa do Senor Abravanel, aquele das maletas. Tenho certeza que esse programa foi baseado no mesmo conceito dos cassinos. O cara ta lá, na frente do botão vermelho, com o banqueiro oferecendo a ele duzentos mil reais. Restam 3 malas para serem abertas. E o cara “não topa”. Geralmente, esses são os que vão embora só com o dinheiro do busão.

Culpem a saideira. Sempre. Eu já me arrependi incontáveis vezes de chamá-la. Aliás, às vezes ela acontece na mesma casa de massagem onde o Jeferson conheceu a prima sulista do André. O problema é que eu nunca tenho dinheiro pra aproveitar que nem ele. Quem sabe se eu tivesse apertado o botão vermelho. Pode passar a régua!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

ESTÚPIDO, PERO ENGRAÇADO

Descobri uma nova diversão nos últimos meses: ser estúpido e intolerante com gente que eu não conheço. É tão legal. Vocês deviam tentar um dia. Claro que nunca é gratuito – o imbecil tem que merecer alguns segundos da minha atenção para que possa bolar uma frase bem ignorante e deixar a pessoa com aquela cara de “será que ele disse o que eu entendi?”.

A última que aconteceu comigo foi num vôo de Porto Alegre para São Paulo. Eu juro que eu sempre tenho uma mísera esperança de que vai sentar aquela gostosa do meu lado e pedir pra eu trocar sentimentos com ela no banheiro do avião.

Pausa: será que eu sou o único cara do mundo que pensa que vive em um filme pornô? Eu sei que não.

É claro que não tinha gostosa nenhuma do meu lado. Aliás, acho que nem no avião. Mas pra piorar, do meu lado tinha um cara imenso, daqueles que você não consegue nem apoiar o braço no encosto da poltrona, porque o espaço já foi ocupado pela barriga dele. Já tinha sido foda pedir pro cara levantar pra eu poder entrar na fileira (meu assento era o do meio), até que veio uma mulher e pediu para nós dois levantarmos para que ela pudesse sentar (o dela era na janelinha).

Pausa de novo: filha da puta. Eu adoro sentar na janelinha!

Levantamos. Mó martírio até todo mundo se acomodar de novo. Até que, de repente, a maldita levanta, e pede para eu e o Jabba, The Hut do meu lado nos levantarmos de novo, porque ela resolveu sentar em outro lugar. Pra aliviar a situação dela, ela disse pra mim:

- Desculpa, é que eu vou sentar com a minha amiga que eu não vejo há 10 anos...
- Nossa, e você ainda chama ela de amiga?


Sim, essa foi a minha resposta. O silêncio pairou no ar. Pessoas ouviram, mas ninguém teve muita certeza de onde tinha vindo aquela frase. Alguns pensaram que o som tinha saído da cabine do piloto, outros pensaram ter escutado um espírito. Enquanto isso, eu ria por dentro, pensando comigo mesmo:

- Chupa essa manga, sua idiota!

Mas como fazer isso? Vamos lá. Agora eu vou ensinar a técnica para ser estúpido sem arrumar briga ou confusão. Nunca olhe nos olhos da pessoa a ser agredida verbalmente. Fale baixo, olhando para o chão ou para a frente. O energúmeno vai saber que é com ele, mas ele não tem como provar; é uma espécie de álibi. Caso ele queira brigar mesmo assim, isso será usado contra ele no tribunal, visto que nenhuma câmera de segurança ou testemunhas viram você se dirigindo a ele. Treine com o garçom do restaurante onde você almoça sempre:

- Mais alguma coisa, senhor?
- Um abraço...
- Perdão? Não ouvi...
- Um guardanapo.


Outros excelentes lugares para a prática da técnica são baladas, bares e afins. Isso porque o barulho é sempre tão grande que você pode falar o que quiser sem ninguém entender. É só para no bar do lado de uma mina e mandar:

- Tô afim de te comer...
- Como?
- O QUE VOCÊ VAI BEBER?
- Ah, pedi uma vodka...
- Você tem uma cara de puta...
- Desculpa, não entendi de novo...
- EU FALEI QUE BOM É VODKA PURA!


Um pouco mais cruel que todas essas é brincar com as crianças pobres no semáforo. Confesso que essa eu nunca fiz porque, no fundo, eu tenho um coração bom, mas já vi um amigo meu fazendo. As crianças sempre chegam com a mesma técnica descrita acima: nunca olham nos seus olhos. Olham pro chão, pro pneu do seu carro ou até mesmo para o console, para ver se não tem uma moedinha por ali, e perguntam:

- Um trocado, tio?
- Não, obrigado.


Sim, eu sei que é estúpido, mas juro que é engraçado. E o mais legal de tudo isso é que, no fim, eu sentei na janelinha com a poltrona do meio entre eu e o gordão. Chupa essa manga, Jabba, the Hut!

quarta-feira, 30 de abril de 2008

MILKSHAKE DE MUNDOMALTINE

Uma das coisas que eu mais vejo graça no mundo é a dissecação. Não, eu não sou a favor de pegar um bisturi e cortar as tripas de um coelhinho morto. Estou falando da dissecação de ditados e expressões de linguagem. Digo isso porque outro dia eu estava conversando com um amigo meu e descobrimos, do nada, um amigo em comum. Aí alguém sempre manda aquela frase de tiozão.

- O mundo é um ovo, não é mesmo?
- Ô, se é.


Vamos lá. O mundo é um ovo. Obviamente, sabemos que o mundo não é um ovo, simplesmente porque ele não é oval. O idiota que inventou isso devia ter dito algo como “o mundo é uma circunferência”.

Tá, eu sei que o lance do “ovo” é pra dizer que o mundo é pequeno, mas primeiro deixa eu acabar com os argumentos, por favor. Por que não uma bolinha de gude, então? É muito menor que um ovo e não é oval. E olha que interessante: no jogo de bolinha de gude, existem várias outras bolinhas de gude dentro de um outro círculo, representando os outros planetas dentro do Sistema Solar. Genial, não? Pelo visto, não. Era mais legal dizer ovo.

Olhando pelo outro lado agora: de o mundo ser um ovo para ilustrar que uma coisa sempre vai levar à outra, que vai levar à outra, até finalmente voltar a você. Nesse caso, já existe uma outra expressão – o mundo dá voltas – e não vale a pena eu me estender nela senão eu vou perder o foco.

Voltando ao tema principal. E se o mundo for realmente um ovo e o errado na história toda sou eu? Isso só me leva a crer - por substituição - que a crosta terrestre é a casquinha, o magma é a clara e o núcleo é a gema.

Pior que isso: em época que só se fala em Isabella, Ronaldo e o travesti, padre baloeiro e aquecimento global, se este último, de fato acontecer, o mundo irá chocar e teremos o nascimento de um pinto gigante. Logo, para frearmos o aquecimento global, tudo o que precisamos é matar a galinha-mais-gigante-ainda que vaga pelo sistema solar. Assim ela não choca o ovo, né?

- Quem vai ganhar? Menino ou menina?
- Meninooooooo.


O tiro foi certeiro e a galinha mais gigante ainda que vaga pelo sistema solar está morta, diz o Pentágono. Ótimo! Agora só precisamos ter cuidado para um meteoro não se chocar com a Terra e quebrar a casquinha do ovo, fazendo com que a gente caia numa enorme frigideira e vire uma omelete colossal.

Viu só como não precisa ser cientista e nem ex-vice-frustrado-quase-futuro-presidente americano pra descobrir a causa do aquecimento global? Basta perder alguns minutos e dissecar um velho ditado. E o cara ainda ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Tsc, tsc, tsc. O ovo tá perdido.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

CULTURA (IR)RACIONAL

Peguei um táxi outro dia. Eu adoro andar de táxi. Eu adoro porque toda vez que eu ando de táxi parece que eu fico mais inteligente (pelo menos, parece). Isso porque os simpáticos taxistas sempre têm algo a nos acrescentar. Eles vivem levando gente pra lá e pra cá e, nessas viagens, eles acabam conhecendo pessoas dos mais variados esteriótipos e profissões.

Esse último que peguei foi bem engraçado. No momento em que entrei no carro, já percebi que seria uma viagem diferente - literal e figuramente falando. Bati o olho na roupa dele e vi que ele vestia um avental da Cultura Racional.

Pausa para você enriquecer um pouco a sua cultura inútil. Ou racional, sei lá.

A Cultura Racional foi criada por um senhor chamado Manoel - isso, ele mesmo, o que "foi pro céu" na música do Ed Motta. A relação é fácil: o Ed Motta é sobrinho do Tim Maia, que foi um seguidor da Cultura Racional na década de 70. Ah, os anos 70, onde todo mundo tinha o aval para ser drogado. Que beleza!

Resumindo, Manoel e sua Cultura Racional pregavam que a vida começou na Terra a partir de uma gota que vagava pelo Universo (?) e que, por ter sua vontade livre (??), caiu aqui no nosso planeta azul. Ao cair, ela acabou penetrando no solo e ficou "choca" (???). E, como tudo que choca gera vida (????), a gota acabou gerando pequenos "monstrengos" (?????) - não ria, é assim mesmo que eles chamam. 

A patir daí, a história fica bem parecida com o que chamamos de Teoria da Evolução das Espécies, mas que eles insistem em chamar de Cultura Racional. Esses "monstrengos" foram crescendo e evoluindo até chegarmos no que conhecemos hoje como homo sapiens.

- Vai pra onde, meu filho?
- Vou descer ali na Rua dos Pinheiros.


Geralmente, eles não puxam muito assunto se você fica quieto. Eles só falam do trânsito, do tempo, dos buracos nas avenidas ou do Timão. Mas eu, idiota que sou, ao ver o avental dele, resolvi puxar o assunto:

- O senhor conhece a Cultura Racional?
- Se eu conheço? Eu era amigo pessoal do Manoel?
- O que foi pro céu?
- Ele mesmo!


Eu fazendo uma piada e o cara me levando a sério. Vê se pode. Continuei o papo.

- E o senhor acredita mesmo na Cultura Racional?
- Claro! Eu vi tudo acontecer. Tudo isso daí. O sol! Ah, o sol! Eu já vi 9 dele!
- Nove?
- É, nove!


Cara, quanta droga é preciso para ver 9 sóis? Confesso que comecei a ficar com medo de andar naquele táxi, e resolvi descer ali mesmo, na Faria Lima. De lá, eu peguei outro táxi e, logo ao entrar, notei um "ar" de uma outra religião.

- Tá frio hoje, né? - perguntou o taxista.
- É...


E fui pra casa quietinho. Desisti de querer ficar mais inteligente com taxistas. Da próxima vez que você entrar em um, limite-se a dizer seu endereço. No máximo diga "essa região é cheia de gostosa" ao passar pela Avenida Paulista. E, se por acaso eles falarem de religião, diga "hã" como quem não ouviu a pergunta 3 vezes seguidas. É infalível. Ah, e não se esqueça de ler o livro. Que livro? Da Cultura Racional...

terça-feira, 1 de abril de 2008

ROMEU E JULI-QUEM?

Romeu e Julieta morreram apaixonados. Na verdade, até mais do que isso: eles se mataram por amor. Acho muito legal esse nobre sentimento, mas tenho que fazer algumas importantes ressalvas nesse relacionamento.

Romeu e Julieta morreram apaixonados porque nunca se casaram. E na real, mesmo que tivessem, saúde e doença, riqueza e pobreza, alegria e tristeza são muito vagos!

Romeu e Julieta morreram apaixonados porque Julieta nunca teve que ouvir o ronco do Romeu ou simplesmente aguentar o cheiro do bafo de cachaça dele depois que ele se tornou alcóolatra por causa da queda do Corinthians para a segunda divisão.

Romeu e Julieta morreram apaixonados porque Julieta nunca quis ver a novela das oito quando o Romeu queria ver o SuperPop, com a participação inédita (?) de Tammy Gretchen.

Morreram apaixonados porque o Romeu nunca pediu para a Julieta dividir um Alpino com ele (tem sacanagem maior do que isso?). Com certeza eles também nunca discutiram ao pegar o lado errado da Marginal, muito menos sobre adotar o Marley, aquele simpático vira-lata da rua de baixo.

E os problemas financeiros? Ah, os problemas financeiros. Será que Julieta ainda amaria, ou pior, tiraria sua própria vida por Romeu depois que ele tivesse apostado tudo no cavalo 5, e não no 4?

- Por que você apostou tudo no 5, Romeu?
- Porque o nome dele era Balboa.
- Fala isso pros seus credores agora. Eu estou indo embora!

É muito fácil se apaixonar. Difícil mesmo é se apaixonar e conseguir manter essa paixão mesmo com o convívio do dia-a-dia. E eles que achavam que suas famílias queriam separá-los. Que nada! Era só um alerta. Nossas famílias sempre querem nosso bem e sempre estão certos.

- Filho, leva um casaco que vai fazer frio!
- Não esquece o guarda-chuva hoje que vai chover, querida.
- A soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa.

Se casar não fosse difícil, o padre não perguntaria de novo, no altar, se os dois têm certeza de que querem se casar.

- Você, Romeu, aceita Julieta como sua legítima esposa?
- Ué, não foi pra isso que eu vim aqui? – responde Romeu.
- Você, Julieta, aceita Romeu como seu legítimo esposo?
- Claro! Não comprei este vestido à toa! – responde Julieta.
- Pronto. Agora a responsabilidade é de vocês. Tô tirando o meu da reta.

Olhando a história por esse ponto de vista, vemos que Romeu e Julieta eram dois jovens inconseqüentes. Suas famílias, percebendo isso, os alertaram para segurarem a emoção, pensar duas vezes sobre o assunto. Nada de mais.

Às vezes a gente se apaixona e acha que está amando. Às vezes a gente acha que só está apaixonado, mas não vive sem a outra pessoa. Às vezes a gente acha que o lado da Marginal em que estamos é o certo. E quando isso acontece não é motivo para uma briga, mas um incentivo para que o casal enfrente mais um problema juntos, porque afinal, a vida é cheia deles.

Acho que nunca fui tão emotivo em uma crônica. É que eu acredito no amor, de verdade. Só não me mataria por ele.
 
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