quarta-feira, 30 de abril de 2008

MILKSHAKE DE MUNDOMALTINE

Uma das coisas que eu mais vejo graça no mundo é a dissecação. Não, eu não sou a favor de pegar um bisturi e cortar as tripas de um coelhinho morto. Estou falando da dissecação de ditados e expressões de linguagem. Digo isso porque outro dia eu estava conversando com um amigo meu e descobrimos, do nada, um amigo em comum. Aí alguém sempre manda aquela frase de tiozão.

- O mundo é um ovo, não é mesmo?
- Ô, se é.


Vamos lá. O mundo é um ovo. Obviamente, sabemos que o mundo não é um ovo, simplesmente porque ele não é oval. O idiota que inventou isso devia ter dito algo como “o mundo é uma circunferência”.

Tá, eu sei que o lance do “ovo” é pra dizer que o mundo é pequeno, mas primeiro deixa eu acabar com os argumentos, por favor. Por que não uma bolinha de gude, então? É muito menor que um ovo e não é oval. E olha que interessante: no jogo de bolinha de gude, existem várias outras bolinhas de gude dentro de um outro círculo, representando os outros planetas dentro do Sistema Solar. Genial, não? Pelo visto, não. Era mais legal dizer ovo.

Olhando pelo outro lado agora: de o mundo ser um ovo para ilustrar que uma coisa sempre vai levar à outra, que vai levar à outra, até finalmente voltar a você. Nesse caso, já existe uma outra expressão – o mundo dá voltas – e não vale a pena eu me estender nela senão eu vou perder o foco.

Voltando ao tema principal. E se o mundo for realmente um ovo e o errado na história toda sou eu? Isso só me leva a crer - por substituição - que a crosta terrestre é a casquinha, o magma é a clara e o núcleo é a gema.

Pior que isso: em época que só se fala em Isabella, Ronaldo e o travesti, padre baloeiro e aquecimento global, se este último, de fato acontecer, o mundo irá chocar e teremos o nascimento de um pinto gigante. Logo, para frearmos o aquecimento global, tudo o que precisamos é matar a galinha-mais-gigante-ainda que vaga pelo sistema solar. Assim ela não choca o ovo, né?

- Quem vai ganhar? Menino ou menina?
- Meninooooooo.


O tiro foi certeiro e a galinha mais gigante ainda que vaga pelo sistema solar está morta, diz o Pentágono. Ótimo! Agora só precisamos ter cuidado para um meteoro não se chocar com a Terra e quebrar a casquinha do ovo, fazendo com que a gente caia numa enorme frigideira e vire uma omelete colossal.

Viu só como não precisa ser cientista e nem ex-vice-frustrado-quase-futuro-presidente americano pra descobrir a causa do aquecimento global? Basta perder alguns minutos e dissecar um velho ditado. E o cara ainda ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Tsc, tsc, tsc. O ovo tá perdido.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

CULTURA (IR)RACIONAL

Peguei um táxi outro dia. Eu adoro andar de táxi. Eu adoro porque toda vez que eu ando de táxi parece que eu fico mais inteligente (pelo menos, parece). Isso porque os simpáticos taxistas sempre têm algo a nos acrescentar. Eles vivem levando gente pra lá e pra cá e, nessas viagens, eles acabam conhecendo pessoas dos mais variados esteriótipos e profissões.

Esse último que peguei foi bem engraçado. No momento em que entrei no carro, já percebi que seria uma viagem diferente - literal e figuramente falando. Bati o olho na roupa dele e vi que ele vestia um avental da Cultura Racional.

Pausa para você enriquecer um pouco a sua cultura inútil. Ou racional, sei lá.

A Cultura Racional foi criada por um senhor chamado Manoel - isso, ele mesmo, o que "foi pro céu" na música do Ed Motta. A relação é fácil: o Ed Motta é sobrinho do Tim Maia, que foi um seguidor da Cultura Racional na década de 70. Ah, os anos 70, onde todo mundo tinha o aval para ser drogado. Que beleza!

Resumindo, Manoel e sua Cultura Racional pregavam que a vida começou na Terra a partir de uma gota que vagava pelo Universo (?) e que, por ter sua vontade livre (??), caiu aqui no nosso planeta azul. Ao cair, ela acabou penetrando no solo e ficou "choca" (???). E, como tudo que choca gera vida (????), a gota acabou gerando pequenos "monstrengos" (?????) - não ria, é assim mesmo que eles chamam. 

A patir daí, a história fica bem parecida com o que chamamos de Teoria da Evolução das Espécies, mas que eles insistem em chamar de Cultura Racional. Esses "monstrengos" foram crescendo e evoluindo até chegarmos no que conhecemos hoje como homo sapiens.

- Vai pra onde, meu filho?
- Vou descer ali na Rua dos Pinheiros.


Geralmente, eles não puxam muito assunto se você fica quieto. Eles só falam do trânsito, do tempo, dos buracos nas avenidas ou do Timão. Mas eu, idiota que sou, ao ver o avental dele, resolvi puxar o assunto:

- O senhor conhece a Cultura Racional?
- Se eu conheço? Eu era amigo pessoal do Manoel?
- O que foi pro céu?
- Ele mesmo!


Eu fazendo uma piada e o cara me levando a sério. Vê se pode. Continuei o papo.

- E o senhor acredita mesmo na Cultura Racional?
- Claro! Eu vi tudo acontecer. Tudo isso daí. O sol! Ah, o sol! Eu já vi 9 dele!
- Nove?
- É, nove!


Cara, quanta droga é preciso para ver 9 sóis? Confesso que comecei a ficar com medo de andar naquele táxi, e resolvi descer ali mesmo, na Faria Lima. De lá, eu peguei outro táxi e, logo ao entrar, notei um "ar" de uma outra religião.

- Tá frio hoje, né? - perguntou o taxista.
- É...


E fui pra casa quietinho. Desisti de querer ficar mais inteligente com taxistas. Da próxima vez que você entrar em um, limite-se a dizer seu endereço. No máximo diga "essa região é cheia de gostosa" ao passar pela Avenida Paulista. E, se por acaso eles falarem de religião, diga "hã" como quem não ouviu a pergunta 3 vezes seguidas. É infalível. Ah, e não se esqueça de ler o livro. Que livro? Da Cultura Racional...

terça-feira, 1 de abril de 2008

ROMEU E JULI-QUEM?

Romeu e Julieta morreram apaixonados. Na verdade, até mais do que isso: eles se mataram por amor. Acho muito legal esse nobre sentimento, mas tenho que fazer algumas importantes ressalvas nesse relacionamento.

Romeu e Julieta morreram apaixonados porque nunca se casaram. E na real, mesmo que tivessem, saúde e doença, riqueza e pobreza, alegria e tristeza são muito vagos!

Romeu e Julieta morreram apaixonados porque Julieta nunca teve que ouvir o ronco do Romeu ou simplesmente aguentar o cheiro do bafo de cachaça dele depois que ele se tornou alcóolatra por causa da queda do Corinthians para a segunda divisão.

Romeu e Julieta morreram apaixonados porque Julieta nunca quis ver a novela das oito quando o Romeu queria ver o SuperPop, com a participação inédita (?) de Tammy Gretchen.

Morreram apaixonados porque o Romeu nunca pediu para a Julieta dividir um Alpino com ele (tem sacanagem maior do que isso?). Com certeza eles também nunca discutiram ao pegar o lado errado da Marginal, muito menos sobre adotar o Marley, aquele simpático vira-lata da rua de baixo.

E os problemas financeiros? Ah, os problemas financeiros. Será que Julieta ainda amaria, ou pior, tiraria sua própria vida por Romeu depois que ele tivesse apostado tudo no cavalo 5, e não no 4?

- Por que você apostou tudo no 5, Romeu?
- Porque o nome dele era Balboa.
- Fala isso pros seus credores agora. Eu estou indo embora!

É muito fácil se apaixonar. Difícil mesmo é se apaixonar e conseguir manter essa paixão mesmo com o convívio do dia-a-dia. E eles que achavam que suas famílias queriam separá-los. Que nada! Era só um alerta. Nossas famílias sempre querem nosso bem e sempre estão certos.

- Filho, leva um casaco que vai fazer frio!
- Não esquece o guarda-chuva hoje que vai chover, querida.
- A soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa.

Se casar não fosse difícil, o padre não perguntaria de novo, no altar, se os dois têm certeza de que querem se casar.

- Você, Romeu, aceita Julieta como sua legítima esposa?
- Ué, não foi pra isso que eu vim aqui? – responde Romeu.
- Você, Julieta, aceita Romeu como seu legítimo esposo?
- Claro! Não comprei este vestido à toa! – responde Julieta.
- Pronto. Agora a responsabilidade é de vocês. Tô tirando o meu da reta.

Olhando a história por esse ponto de vista, vemos que Romeu e Julieta eram dois jovens inconseqüentes. Suas famílias, percebendo isso, os alertaram para segurarem a emoção, pensar duas vezes sobre o assunto. Nada de mais.

Às vezes a gente se apaixona e acha que está amando. Às vezes a gente acha que só está apaixonado, mas não vive sem a outra pessoa. Às vezes a gente acha que o lado da Marginal em que estamos é o certo. E quando isso acontece não é motivo para uma briga, mas um incentivo para que o casal enfrente mais um problema juntos, porque afinal, a vida é cheia deles.

Acho que nunca fui tão emotivo em uma crônica. É que eu acredito no amor, de verdade. Só não me mataria por ele.
 
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